Quarta-feira, Betim, cinco e meia da manhã. A auxiliar de faturamento Janice Guilherme de Angelis já está pegando um ônibus com destino à Estação Eldorado, em Contagem, ponto de partida da linha de metrô de Belo Horizonte. Depois de uma hora no ônibus, Janice desembarca na Estação Eldorado, mas na maioria dos dias não consegue entrar no primeiro trem às seis e meia da manhã por causa do grande volume de passageiros que utilizam o metrô nesse horário. Normalmente, ela embarca no segundo trem, o que provoca uma espera maior, já que o intervalo entre os trens no horário de pico chega a 4 minutos. Após embarcar no metrô, Janice gasta entre 44 a 45 minutos até a última Estação da linha, a Vilarinho. Para chegar ao local de trabalho, a auxiliar ainda pega outro ônibus por mais cinco minutos. Mesmo gastando cerca de duas horas e meia para chegar ao trabalho, a moradora de Betim afirma que prefere usar o transporte metroviário, que para ela, é a opção mais rápida. “Se fosse de ônibus, gastaria umas três horas ou mais com o trânsito. E com metrô é muito mais rápido”, explica. Se utilizasse apenas o ônibus, Janice pegaria um coletivo de Betim até o centro de Belo Horizonte e depois um outro ônibus que a levaria à Venda Nova.
Desembarque na Estação Eldorado às 19 horas
O trajeto que a auxiliar de faturamento, Janice Guilherme, faz todos os dias de metrô tem duração média de 44, 1 minutos, segundo estimativa da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Esse é o tempo necessário para percorrer as 19 estações da linha de 28,6 quilômetros de extensão que compõe o sistema de transporte metroviário de Belo Horizonte. Atualmente, o percurso do metrô vai do Bairro Eldorado, em Contagem, região metropolitana da capital, até o Vilarinho, na região de Venda Nova.
A infra-estrutura do metrô
19 estações do sistema metroviário de Belo Horizonte
A linha do metrô em Belo Horizonte permite o transporte de passageiros entre as regiões oeste e norte da capital, passando pelo centro da cidade. Dentre as 19 estações, apenas São Gabriel, Lagoinha, Eldorado, Central, José Candido da Silveira e Vilarinho possuem terminais de integração com 222 linhas de ônibus de Belo Horizonte e região metropolitana. Ao todo, são 25 trens que desenvolvem velocidade média de 40 quilômetros por hora, mas entre as estações, a velocidade dos trens pode chegar até 80 quilômetros por hora.
Com essa estrutura, o metrô de BH atualmente consegue transportar mais de 200 mil usuários diariamente. E essa demanda vem aumentando nos últimos anos. De acordo com o Gerente Regional da CBTU - Metrô BH, Fernando Pinho, em um ano, a empresa registrou um aumento de 15,34 % no número de passageiros do metrô, passando de mais de 43 milhões de usuários em 2009 para cerca de 50 milhões em 2010. Fernando Pinho ressalta que, somente até maio de 2011, o sistema metroviário já levou quase 23 milhões de pessoas, o que equivale a aproximadamente 50% do volume de passageiros no ano passado. A expectativa é que até o final do ano esse número seja ainda maior que em 2010. O gerente regional da CBTU aponta a maior agilidade do metrô no deslocamento em comparação com o transporte rodoviário, seja de ônibus ou de carro, como o principal fator que explica o aumento da demanda no sistema metroviário. “Não existe um estudo técnico para fazer essa avaliação. Mas é possível perceber que à medida que o trânsito de automóveis fica cada vez mais congestionado e são feitas mais obras nas vias urbanas, a demanda de usuários no metrô vem aumentando”.
Fernando Pinho ressalta ainda outros fatores que impulsionaram a evolução do transporte de passageiros no metrô, como conforto, segurança, serviços de comércio, prestação de primeiros socorros aos usuários e tarifa reduzida. O gerente regional da CBTU – Metrô BH destaca que a tarifa do transporte no valor de R$ 1,80 atrai muitos usuários, já que é bem menor em relação ao preço das passagens das linhas de ônibus, cujo preço mais baixo é R$ 2,45. Ele aponta ainda como vantagem o sistema de integração com o transporte rodoviário que também sai mais barato para os passageiros. A tarifa de integração é a soma do valor da maior tarifa mais a metade da menor tarifa. A auxiliar de faturamento, Janice Guilherme de Angelis, por exemplo, ao sair de metrô da Estação Eldorado e pegar um ônibus na Estação Vilarinho gasta R$ 3,35 ao invés de R$ 4,25 que seria a soma dos valores integrais das tarifas de trem e ônibus.
Para entrar nos trilhos
Apesar de o metrô ser uma alternativa que tem como principal vantagem a economia de tempo no deslocamento da população, o sistema metroviário de Belo Horizonte ainda possui limites. Luzia Eli, moradora do Bairro Califórnia, trabalha com vendas e usa o metrô todo os dias. De manhã, ela sai da Estação Gameleira e vai até a Estação Central e à noite da Estação Santa Efigênia retorna para a Gameleira. A vendedora diz que é muito mais fácil utilizar o metrô, mas ressalta que faltam mais trens e linhas de integração. “O pior do metrô é a falta de integração de ônibus. A Gameleira mesmo, não tem integração nenhuma. Se tivesse uma integração com vários bairros como na Estação do Eldorado seria melhor.”, defende. Sobre a integração, o professor da UFMG, especialista em Engenharia de Transportes e Trânsito, Dimas Palhares, destaca que apesar de proporcionar um conforto maior do que o oferecido nos ônibus, o metrô não tem a mesma facilidade de acesso a qualquer lugar como um ônibus. “O metrô é muito bom quando você mora perto de uma estação. Uma pessoa que está na Praça Sete, por exemplo, e quiser pegar o metrô tem que descer a Avenida Amazonas, três, quatro quarteirões; atravessar a Praça da Estação; mergulhar naquela escadaria e subir a escada para chegar à plataforma. O metrô só atende à região em que passa”.
Sobre a falta de trens,Fernando Pinho avalia que, à medida que a demanda pelo metrô cresce, é preciso investir na expansão do sistema. “Hoje para a linha em operação seriam necessários mais 10 trens para diminuir o intervalo do metrô, que hoje é de 4 minutos no horário de pico. Esse tempo poderia diminuir para 2 minutos.”, explica.
Além disso, segundo Dimas Palhares, até mesmo o sistema metroviário de grandes cidades do mundo, como Nova Iorque, Londres, Madri e Paris, que possuem uma infra-estrutura maior, consegue realizar, no máximo, 20% de todas as viagens urbanas. No Brasil, esse número é ainda menor de acordo com o professor da UFMG. Em São Paulo, por exemplo, o metrô abrange 10% das viagens e em Belo Horizonte, apenas 1,8%.
Devido a essa pouca abrangência muito se discute sobre a necessidade de expansão do sistema metroviário. No entanto, o especialista em Engenharia de Transporte e Trânsito, observa que o custo de ampliação do sistema metroviário é muito alto. De acordo com o professor, são necessários investimentos de 100 a 130 milhões de dólares para construir apenas um quilômetro de linha e mesmo assim continuaria atendendo somente uma pequena parte da população. O professor defende que a expansão do metrô não pode ser encarada como a única solução para o problema do transporte público nas grandes cidades. Para ele, o planejamento de diversos sistemas de transporte é uma boa estratégia. “O melhor modelo para uma cidade é ter vários módulos adequados para cada tipo de situação, por toda a cidade; e a pessoa escolhe qual é o melhor módulo, dependendo da viagem que ela vai fazer”, conclui.